Cirurgia bariátrica revela novos desafios para paciente e cirurgião plástico

A ideia do que é belo sofreu diversas modificações ao longo da história. O padrão estético corporal é normatizado desde os primórdios dos regimes patriarcais: todas as culturas se desenvolveram marcadas por modelos estéticos definidos. Hábitos e práticas são, assim, construídos a partir de determinações socioculturais. 

Nesse sentido, a economia influencia significativamente no estabelecimento de padrões. Sempre existiu uma contradição entre a oferta de alimentos e as formas corporais femininas que são almejadas. Desse modo, em épocas de escassez, a imagem feminina de uma mulher robusta é mais valorizada, sinalizando poder e opulência. Em períodos nos quais a comida é abundante, como atualmente, a magreza representa disciplina e sucesso. Os modelos de beleza indicam, portanto, distinção social e simbolizam as diferenças entre as classes sociais. Em relação ao Brasil, desde a Independência até os dias atuais, os modelos de beleza passaram por modificações e se adaptaram aos contextos econômico, político, social e histórico. 

A partir dos anos 60, iniciou-se a criação de uma imagem feminina esquálida, materializada nas manequins e modelos, que assumiram proporções cada vez menores. No começo dos anos 80, a busca pela magreza já era uma realidade: em uma pesquisa que comparava o peso e as formas corporais de candidatas do concurso “Miss América” e modelos de capa de uma famosa revista masculina de 1959 a 1978, foi constatada uma mudança gradual no padrão estético. Os autores do estudo identificaram uma transição progressiva das formas corporais curvilíneas para um modelo cada vez mais magro e sem formas definidas. O fim do século XX e início do XXI são marcados pelo culto ao corpo. Há uma busca pelo modelo ideal, que liga a magreza à ideia de competência e atratividade sexual. 

Pesquisas demonstram dados preocupantes: o preconceito contra a gordura atinge crianças, pressionando desde cedo para que sejam magras. O advento da cirurgia bariátrica fez com que obesos pudessem perder peso, o que não conseguiam facilmente. Isso trouxe um novo grupo de pacientes para a cirurgia plástica. A cirurgia bariátrica representa um desejo do sujeito de realizar mudanças imediatas no corpo e na própria vida. Após a cirurgia, os desafios de experimentar uma nova apropriação de sua imagem corporal continuam, revelando um processo complexo. 

Somente por meio da adesão ao tratamento e a responsabilidade do sujeito é possível que os resultados da intervenção sejam satisfatórios. A cirurgia plástica pós-bariátrica impõe novos desafios ao médico e paciente à procura da harmonia entre corpo e mente. O resultado estético final depende de uma parceria sólida, que compreenda esse processo sem esquecer que os padrões mudam, mas o que importa é se manter saudável.